“ATÉ A AREIA DO MUNDO ESTÁ ACABANDO”
REVISTA TRIP - 03/07/2017
No dia de ontem, foi publicada na Revista Trip a reportagem “Até a Areia do Mundo está Acabando” que versa sobre a problemática da extração ilegal de areia e suas consequências, a partir do estudo que publiquei no final do ano passado “A Extração Ilegal de Areia no Brasil”.
A reportagem traz uma visão que reflete os fundamentos da revista, com 30 anos de história, que é a Reflexão, a Inovação e a Diversidade, tratando a cada mês dos mais variados temas – da política ao sexo, da cultura de praia às novas relações com o trabalho, da alimentação às drogas, da segurança pública ao novo ativismo.
Desde 2010, a Revista Trip, com tiragem de 30 mil exemplares, também circula nas bancas e livrarias da Alemanha, Áustria e Suíça, e tornou-se, assim, o primeiro título entre as revistas brasileiras a ser licenciado para um dos maiores mercados editoriais do mundo.
Portanto, ser considerado pela revista como principal estudioso da extração ilegal de areia no Brasil, além de ser um reconhecimento pelos trabalhos realizados, também engrandece a instituição Polícia Federal, a qual pertenço.
"De acordo com o agente da Polícia Federal Luís Fernando Ramadon, principal estudioso da extração ilegal de areia no Brasil, o combate a esse tipo de prática é complicado. Ele conta que empresas com autorização do estado acabam excedendo a área delimitada para maximizar os lucros. Assim, areia legal e ilegal se misturam até mesmo sob os olhos da fiscalização".
O promotor Jaime Meira, do
Ministério Público paulista, tem travado uma batalha contra organizações
criminosas nos últimos anos. Com a ajuda de uma pequena equipe de engenheiros
ambientais, Jaime tenta impedir o funcionamento de quadrilhas que operam em cerca
de trinta municípios no Vale do Paraíba. "É uma luta constante, e por
vezes o tráfico leva a vantagem", desabafa. O promotor atua à frente de
uma divisão de crimes ambientais do MP, e o Vale do Paraíba é uma das regiões
com o maior índice de delitos do tipo do estado de São Paulo. O produto que ele
tenta proteger, muitos nem sabem que é valioso no mercado paralelo: areia.
Sim, areia.
Por conta da
geografia diversificada, o Brasil tem uma lucrativa rede de tráfico de areia.
Acredita-se que os sedimentos extraídos ilegalmente de litorais e rios
movimentem um mercado bilionário no país.
Segundo um estudo realizado por um agente da Polícia Federal em 2015, são mais
de R$ 8 bilhões gerados por ano. A cifra aproxima a areia de produtos que já
são alvos clássicos de traficantes, como drogas ilícitas, armas e animais.
Não é de hoje que estudos
internacionais alertam para o uso excessivo de areia. A indústria do cimento é
apontada como a que mais utiliza o mineral. Dados da agência nacional de
mineração dos Estados Unidos mostram que, no primeiro semestre do ano passado,
443 milhões de toneladas foram comercializadas para a construção civil no país.
O Brasil não fica muito atrás: o último relatório do Ministério de Minas e
Energias, de 2014, mostra que a construção civil nacional utilizou mais de 390
milhões de toneladas. Segundo a ONU, em 2012 o consumo mundial foi de 29,6
bilhões de toneladas. E esse número vem aumentando rapidamente, por conta do
crescimento de países como a China, onde a demanda disparou quase 440% em
apenas vinte anos, para construção de rodovias e prédios.
Diferentemente da
água, cujo ciclo natural auxilia a repor o gasto excessivo com as chuvas, a
reposição da areia leva muito tempo. Um grão é derivado de rochas que passaram
por milhares de anos de erosões – e mais outros milhares para finalmente
pavimentar rios, oceanos e desertos. Não à toa, a areia afeta o comportamento
de toda a cadeia ambiental (para se ter uma ideia, engenheiros do governo
norte-americano estão reconstruindo uma praia em Nova Jersey para evitar
inundações causadas por tempestades) e tem influência na vida de espécies de
animais e de plantas marinhos e terrestres.
Como cada tipo de
grão passa por condições climáticas variadas e surge de diferentes rochas, cada
areia é uma areia. Dubai, por exemplo, é rodeada por um longínquo mar de dunas.
Os grãos que envolvem a cidade mais importante dos Emirados Árabes, porém, são
muito finos para se construir. A areia utilizada na obra do maior arranha-céu
do mundo, o Burj Khalifa, com 828 metros de altura, foi importada da Austrália.
É difícil estimar a cifra do
comércio legalizado de areia no mundo. A agência de mineração norte-americana
diz que, em 2016, pouco mais de 4 mil companhias – de importação e extração –
movimentaram US$ 8,9 bilhões por lá. Na indústria estadunidense, foram mais de
US$ 4 bilhões no mesmo período. Segundo a Anepac, associação nacional de
produtores de agregados para construção, o mercado brasileiro (incluindo também
a produção de brita além de areia) movimentou R$ 19 bilhões em 2014. A
atividade de mineração, como um todo, representa 4% do PIB nacional.
Farofa-fá-fá
De acordo com a ONU, China,
Índia, Estados Unidos, Brasil e Turquia produziam 70% do cimento derivado de
areia existente no mundo em 2012. De lá para cá, cada país à sua maneira
tenta diminuir a extração com leis mais burocráticas para a exportação e
extração – como a Índia – e leis mais rígidas para combater a prática ilegal.
Mas assim que isso é feito, países com menor participação na produção mundial,
como o Marrocos, logo preenchem o espaço no mercado internacional com toneladas
de areia extraída ilegalmente. O mesmo acontece no Camboja, Malásia e Jamaica.
De acordo com o agente da
Polícia Federal Luís Fernando Ramadon, principal estudioso da extração ilegal
de areia no Brasil, o combate a esse tipo de prática é complicado. Ele conta
que empresas com autorização do estado acabam excedendo a área delimitada para
maximizar os lucros. Assim, areia legal e ilegal se misturam até mesmo sob os
olhos da fiscalização.
Os mais penalizados costumam ser aventureiros que
instalam o maquinário em lugares ilegais até serem denunciados às autoridades.
"A fiscalização costuma movimentar órgãos estaduais e federais, como o
Ministério Público, a Polícia Federal e as Polícias Militares e Polícias
Militares Ambientais. Quem estiver operando de forma ilegal recebe penas (criminais e administrativas) federais e estaduais, a depender de quem autuar", diz o agente.
Os rios são os locais mais
procurados pela extração, explica Luís, não só pela valiosidade do grão, mas
também pelo baixo movimento de turistas. As penalidades costumam ser multas
milionárias por danos morais ao meio-ambiente e obras de reflorestamento.
Tanto a ONU
quanto geólogos não enxergam um futuro com muitas alternativas para substituir
a maneira como consumimos areia. O governo norte-americano sugere o uso de
pedras esmagadas e asfalto reciclado – embora o próprio governo reconheça que a
opção alternativa ainda é extremamente baixa se comparado ao uso de areia in
natura.
"Ninguém vai à praia de sapato. Eu, por exemplo,
quando boto o pé na areia sinto uma energia entre corpo e espírito que gostaria
que as pessoas no futuro também experimentassem", diz Ramadon. "A
preservação da areia no ambiente é um combate a ser feito por todos, pois cada
ser humano faz parte da natureza. É preciso se importar com esse crime."
Revista Trip
Reflexão, inovação, diversidade: poucas
publicações têm em seu DNA a busca incessante pelo novo, a grande marca da Trip
em seus 30 anos de história. Lançada em 1986, a revista trata a cada mês dos
mais variados temas – da política ao sexo, da cultura de praia às novas
relações com o trabalho, da alimentação às drogas, da segurança pública ao novo
ativismo.
Premiada dentro e fora do país,
conquistou três medalhas no New York Art Directors Club com a matéria “Moda serve pra isso,” publicada na
edição 59, em 1998. A Trip foi
apontada pelo jornal Meio & Mensagem e pela Troiano Consultoria, em 2012,
como a terceira revista de maior prestígio do país no ranking Veículos mais
Admirados, do jornal Meio & Mensagem. A mesma publicação apontou-a como a
revista mais inovadora e criativa do Brasil por seis anos consecutivos, fato
que se renovou em 2012, 2013 e 2014. Em 2011, comemorou 25 anos com uma festa
na galeria Espasso, em Nova York, para lançar sua edição especial em inglês. No
mesmo ano a revista ganhou sua versão em tablet.
Por dois anos seguidos, 2010
e 2011, a Trip recebeu
o prêmio Esso, mais importante premiação do jornalismo brasileiro, na categoria
Criação Gráfica em Revista. Em 2014 e 2015 o feito se repetiu. A matéria “De olhos bem fechados”, publicada
na Trip #226,
e a edição #256, cujo tema central era Vagina, foram campeãs nessa mesma
categoria. A revista Trip foi
indicada pela terceira vez na categoria de Melhor Revista Jovem no 29º prêmio
Veículos da Comunicação no ano de 2015.
Desde 2010, a revista Trip também circula nas
bancas e livrarias da Alemanha, Áustria e Suíça, e tornou-se, assim, o primeiro
título entre as revistas brasileiras a ser licenciado para um dos maiores
mercados editoriais do mundo.
Periodicidade: Mensal
Tiragem: 30 mil exemplares
Lançada em: 1986
Tiragem: 30 mil exemplares
Lançada em: 1986